Partidários de islâmico Morsi se manifestam contra dissolução de Parlamento e emendas constitucionais que garantem mais poder à junta militar que sucedeu a Mubarak
Milhares de egípcios responderam nesta terça-feira à convocação da Irmandade Muçulmana e tomaram a Praça Tahrir em protesto contra o aumento do poder da junta militar
por meio de emendas à Constituição interina do país. A manifestação
ocorreu enquanto os dois candidatos presidenciais insistem em se
anunciar como vitoriosos na eleição realizada no fim de semana.
Milhares de partidários do candidato da Irmandade Muçulmana,
Mohammed Morsi, lotam Praça Tahrir, epicentro do levante popular que
derrubou Mubarak em 2011
'Eleição incostitucional': Suprema Corte do Egito ordena dissolução do Parlamento
Em coletiva, Ahmed Sarhan, porta-voz do ex-primeiro-ministro
Ahmed Shafiq, disse que o militar da reserva venceu as eleições
presidenciais com 51,5% do apoio dos eleitores, o que representaria uma
vantagem de meio milhão de votos sobre Mohammed Morsi, candidato
do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana.
O representante de Shafiq, último chefe de governo do regime de Hosni Mubarak,
acusou o rival de ser evasivo sobre os dados que o colocam como
vencedor da eleição. Apesar da declaração da vitória, a campanha de
Shafiq disse que esperará até a quinta-feira, data em que serão
divulgados os resultados oficiais pela Comissão Eleitoral, para celebrar
o resultado.
Partidários de Morsi, porém, disseram que ele venceu a votação com 52% dos votos, enquanto Shafiq teria 48%.
Em meio à polêmica, vários grupos, entre eles a Irmandade
Muçulmana, realizaram nesta terça-feira um grande protesto na Praça de
Tahrir contra a recente dissolução do Parlamento de maioria islâmica e as últimas emendas constitucionais anunciadas pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, que sucedeu a Mubarak depois de ele ter sido forçado a renunciar por um protesto popular.
A Irmandade se opõe à decisão da junta militar de blindar suas
prerrogativas de maneira unilateral por meio das emendas à Declaração
Constitucional provisória e vigente desde março de 2011.
Segundo essas remodelações, o conselho conservará a autonomia nas
decisões que afetem o Exército, além do poder legislativo que retomou
após a dissolução do Parlamento. O novo presidente será capaz de formar e
dissolver o governo, ratificar e rejeitar leis e declarar guerra, mas
apenas com a aprovação dos militares.
Um dos manifestantes, o professor Ahmed Al Sayid, garantiu que
foi protestar contra as emendas, pois elas tiram a autoridade do futuro
presidente. Em referência à dissolução da câmara baixa do Parlamento,
formalizada pela junta militar após uma decisão do Tribunal
Constitucional, Sayid questionou a a decisão da cúpula militar, que
dirige o país de maneira provisória, de "invalidar uma instância
escolhida pelo povo".
Egípcio mostra a língua para soldados antidistúrbio durante protestos perto do Parlamento no Cairo (19/06). Foto: AP
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Milhares de manifestantes repetiram palavras de ordem contra a
autoridade militar e a favor da transferência imediata do poder ao
próximo presidente eleito enquanto erguiam retratos de Morsi.
Nesta terça-feira, o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter,
cujo centro supervisionou as eleições presidenciais, expressou sua
preocupação pelas últimas decisões da junta militar. Para Carter, essas
notícias refletem o "giro antidemocrático na transição do Egito".
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