O próximo presidente do Egito assumirá um país mergulhado em problemas econômicos e sociais em meio a aumento de preços de produtos básicos, perda de credibilidade frente a credores internacionais e o ceticismo de investidores estrangeiros, segundo a mídia e analistas egípcios.
O novo líder do país será escolhido na eleição presidencial que ocorre nesta quarta e quinta feira, dias 23 e 24, para o lugar do ex-presidente Hosni Mubarak, que renunciou em fevereiro do ano passado após protestos populares pró-democracia.
Durante a revolução que tirou Mubarak do poder, uma das reinvindicações dos manifestantes era reforma econômica para suprir as necessidades da imensa maioria dos egípcios. Taxas de desemprego, alta dos preços, pobreza e corrupção foram os principais elementos que levaram a população às ruas para exigir o fim do regime.
Após 15 meses desde a queda de Mubarak, pouco mudou no país para amenizar os problemas econômicos. Em muitos setores da economia, a situação piorou, e a população em geral vem sofrendo com a alta de preços.
Alguns egípcios reclamam que pouco ou nada foi feito para evitar a recessão na economia, acusando o governo interino de estar mais preocupado com a crise política e os arranjos partidários do que com o bem-estar do povo.
"Greves de funcionários públicos são comuns desde a queda do antigo regime. Cada categoria exige melhores salários, mas com um déficit no orçamento, o governo pode fazer pouco para atender a todos", disse ao Terra o analista econômico Maher al-Nifat, do Centro de Estudos Econômicos do Cairo.
Turismo enfraquecido
Um dos setores mais atingidos é o turismo, que com a crise política, sofre com poucos turistas desde o ano passado. Segundo o governo, o setor é dos mais importantes da economia egípcia, responsável por 8% da entrada de divisas e 10% de sua força de trabalho.
Entre 10 e 13 milhões de turistas entravam no Egito a cada ano, movimentando mais de US$ 11 bilhões. Mas a instabilidade política que se seguiu após a revolução de 2011 provocou a fuga de visitantes estrangeiros.
"Com isso, setores comerciais não tiveram o mesmo desempenho de outros anos, e muitos empregados foram demitidos, aumentando ainda mais as taxas de desemprego", disse ao Terra o professor Omar Shemali, economista da Universidade de Ain Shams do Cairo. "O cenário não é muito animador para o novo presidente a ser eleito", completou.
Ele explicou que o aumento nos preços dos combustíveis colocou um peso no orçamento do governo, resultando em um déficit orçamentário de cerca de 10% do PIB do país. "O setor industrial se contraiu com a queda das exportações, gerando mais desemprego".
Investidores estrangeiros, temerosos pela instabilidade no Egito, retiraram seus investimentos, provocando queda na bolsa de valores do país. Além disso, no início do ano, o governo egípcio fez um pedido de empréstimo de US$ 3,2 bilhões junto ao FMI, mas a falta de consenso político no Egito inviabilizou a negociação com a organização internacional.
"O Egito tem potencial. Possui a matéria-prima, infraestrutura e mão-de-obra, mas precisa de profundas reformas para diminuir o déficit em seu orçamento, aumentar a eficiência de seus setor público e combater a corrupção", disse Shemali.
Vendedores ambulantes
A profunda crise econômica fez muitos egípcios partirem para a economia informal, se tornando vendedores ambulantes ou serviços temporários.
Mahmoud Darwa, 50 anos, perdeu o emprego em uma empresa de vigilância no Cairo há cerca de quatro meses. Para manter uma renda e sustentar sua família, ele passou a vender verduras e frutas nas ruas, trabalhando de manhã até o fim do dia.
"Eu fui demitido junto com outros oito colegas. O que eu ganhava já não era o suficiente, mas eu dava um jeito com algum trabalho extra. Agora minha esposa precisa trabalhar como faxineira para ajudar nas despesas", disse o pai de quatro filhos ao Terra, sentando em frente a sua pequena banca de verduras.
Darwa lamenta a situação política que toma conta do país. "Só escuto muitos discursos dos partidos políticos. Não sei se algum dos candidatos resolverá a péssima situação que vivemos", falou ele.
Outro desempregado, Mohamed Mustafa, disse que perdeu seu emprego em uma fábrica há cinco meses. "Agora eu vendo cigarros nas ruas e, eventualmente, lavo carros por algum dinheiro", disse. "Espero que o novo presidente traga progresso e ajude os pobres, porque somos nós que mais precisamos de ajuda", enfatizou Mohamed.
Analistas são unânimes em dizer que o candidato à presidência que vencer o pleito estará sob extrema pressão para resolver a profunda crise econômica do Egito.
"Será um desafio enorme e uma tarefa bastante complexa diminuir o déficit do governo, cortando subsídios, sem afetar ainda mais a vida da parcela mais pobre da sociedade, que colocará muitas expectativas no novo líder escolhido nas urnas", concluiu Shemali.
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