sexta-feira, 25 de maio de 2012

Egito: eleições opõem Irmandade Muçulmana a símbolo da era Mubarak


O segundo turno da eleição presidencial egípcia deverá opor o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi, ao símbolo do regime do presidente deposto Hosni Mubarak, Ahmad Shafiq, segundo os resultados anunciados nesta sexta-feira pela poderosa irmandade.
A Irmandade indicou nesta sexta-feira à noite que havia tido acesso a "números completos" do primeiro turno, e que está "absolutamente claro" que os dois disputarão o segundo, que será realizado nos dias 16 e 17 de junho.
A informação não foi confirmada pela Comissão Eleitoral, que deve anunciar os resultados oficiais a partir de domingo.
Essam el-Erian, membro da Irmandade Muçulmana, atacou Shafiq nesta sexta à noite, afirmando que sua eleição colocará "a nação em perigo".
Ele pediu aos candidatos derrotados no primeiro turno que dialoguem com a Irmandade para "salvar a revolução", referindo-se à queda do governo de Mubarak em fevereiro de 2011.
Os sites de vários jornais também davam no início da noite Morsi e Shafiq na frente no primeiro turno em uma disputa apertada .
O jornal independente Al-Masry al-Yom atribuía a ambos respectivamente 24,9% e 24,5% dos votos, seguidos do candidato nacionalista árabe Hamdeen Sabbahi, com 21,1%, com base em resultados quase definitivos obtidos nos centros de votação.
Dois candidatos que estavam entre os favoritos, o ex-chefe da Liga Árabe Amr Mussa, e o islamita moderado Abdel Moneim Abul Futuh, reconheceram a derrota no primeiro turno. Abul Futuh manifestou a sua oposição a Shafiq.
Considerado "o candidato substituto" da Irmandade Muçulmana, após o veto pela comissão eleitoral de sua primeira opção, Khairat al-Chater, Morsi tem se beneficiado da máquina eleitoral e da base militante da poderosa irmandade.
A Irmandade, oficialmente proibida há mais de 50 anos no Egito e pesadelo do regime de Mubarak, já havia vencido as eleições legislativas de janeiro.
Ahmad Shafiq, por sua vez, centrou a campanha na segurança e estabilidade, com o objetivo de reunir os egípcios frustrados com a agitação política e a deterioração da situação econômica desde o levante popular que derrubou Mubarak, em plena Primavera Árabe.
Morsi e Shafiq são os candidatos menos consensuais entre as 12 personalidades que disputam à presidência do país mais populoso do mundo árabe.
O ex-primeiro-ministro é odiado pelos partidários da "revolução", para quem sua eventual vitória significaria a morte de seus ideais.
O ex-comandante do Estado-Maior da Força Aérea é considerado por muitos como o candidato do antigo regime e dos militares, no poder desde a queda do "rais".
"Livres e honestas" Os críticos de Morsi o consideram como um fantoche da Irmandade, além de possuir uma visão islâmica muito conservadora em detrimento dos interesses nacionais.
Depois de décadas de eleições forjadas, esta é a primeira vez que os egípcios escolhem livremente o seu chefe de Estado.
"É um sentimento de alegria e orgulho. Independente do resultado, os egípcios estão muito orgulhosos por terem realizado suas primeiras eleições livres e justas", disse Ahmed Helmy, pediatra, nesta sexta-feira no Cairo.
"O Egito prende a respiração", afirma a manchete do jornal do partido liberal Al-Wafd, refletindo o sentimento geral.
Quinta-feira à noite, horas antes do fechamento das urnas, o presidente da Comissão Eleitoral, Faruk Sultan, estimou o comparecimento em 50%, indicando que a eleição foi realizada de forma "calma e organizada".
Os Estados Unidos felicitaram o Egito por esta eleição, descrita como "histórica", e dizendo estar prontos a cooperar com qualquer governo "eleito democraticamente".
A eleição deve acabar com um período de transição marcado por protestos e violência. O Conselho Militar, acusado pelos ativistas pró-democracia de continuar com política de repressão do antigo regime, prometeu entregar o poder antes do final de junho.
Os poderes do futuro presidente, no entanto, permanecem pouco claros, a Constituição vigente durante o regime Mubarak foi suspensa e a elaboração da futura lei fundamental ainda não começou.
O chefe de Estado terá de enfrentar uma grave crise econômica, que combina as extremas desigualdades sociais herdadas a desaceleração acentuada da atividade, particularmente no setor do turismo.
Aos 84 anos, Mubarak, que governou por quase 30 anos, foi hospitalizado perto de Cairo. Julgado pela morte de manifestantes durante a revolta e acusado de corrupção, ele vai saber o seu destino em 2 de junho. A promotoria pediu a pena de morte.

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