Negociadores dizem estar felizes com o documento final, apesar de admitir que há discordâncias
Apesar de classificar a declaração da
Rio+20
aprovada na manhã de terça-feira como uma “vitória do
multilaterismo”, o Itamaraty admitiu que a crise econômica mundial
prejudicou algumas das decisões, em especial à ligada a financiamento,
no trecho que se refere a meios de implementação.
O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, secretário-chefe da
delegação brasileira, afirmou que a crise prejudicou as negociações em
torno dos meios de implementação, que financiarão o desenvolvimento
sustentável. O documento acabou com compromissos de acordos posteriores
sobre como e quem daria recursos, com prazo para 2014. “A crise que se
abate com força nos países do norte certamente influenciou a Rio+20”,
disse Figueiredo. “Houve uma retração dos países desenvolvidos em áreas
importantes como solidariedade e cooperação internacional”. O
negociador-chefe do Brasil, André Correa do Lago, completou: “Os
recursos não apareceram.”
O Ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota abriu a
sessão à imprensa para falar da aprovação final do documento, às
vésperas da chegada dos chefes de Estado à conferência de
desenvolvimento sustentável da ONU. “Cumprimos o que nos propomos. O
texto chegou ao Rio com 40% de acordo, e agora está 100% acordado”,
afirmou.
A Ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira, também saudou os
esforços dos diplomatas brasileiros: “É a primeira vez que uma
conferência desse tipo termina nos seus prazos”, disse, se referindo às
negociações das conferências de clima, sempre complicadas, mas
aparentemente se esquecendo que o prazo final previsto para as
negociações era de sexta-feira passada (15).
Patriota afirmou que entre as vitórias do documento estão o fato
de que todos os princípios acordados em 1992 continuam reafirmados, em
especial as responsabilidades comuns porém diferenciadas -- um ponto de
discórdia entre países ricos e pobres.
O Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente),
afirmaram os diplomatas, não será elevado a agência, mas ganhou uma
recomendação para maior intergração dentro do sistema ONU e um aumento
em seu orçamento. Essa decisão ficará para o fim ainda de 2012, durante a
Assembleia Geral da ONU.
Outras vitórias seriam o início de uma série de discussões:
debate dos novos índices de riqueza que aposentassem o Produto Interno
Bruto e levassem em conta fatores sociais e ambientais, a revisão dos
Objetivos do Milênio (e um posterior estabelecimento dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável) e um compromisso de se estabelecer, num
prazo de dez anos, novos padrões sustentáveis de consumo. No entanto, o
que se esperava do documento é que esses temas já saíssem do texto final
com definições mais claras, e não compromissos para estudos
posteriores.
Patriota disse que o texto refletia a posição brasileira em
vários dos temas, mas admitiu depois que em alguns tópicos, como os
direitos reprodutivos das mulheres, as obrigações do país como anfitrião
da Rio+20 e a necessidade de atingir um consenso tiveram que ser mais
fortes que suas posições enquanto estado-membro da ONU.
No fim, a delegação se disse satisfeita com os resultados: “Há divergências, mas estamos felizes”, disse Figueiredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário